Chegou bem?

voltar pra casa

clímax atmosfeérico do dia andar na travessa da rodovia molhada sem luz

sem ver o próximo passo brisa geladinha comendo pinha do conde

ao som

dos pneus com menos atrito

dos transeuntes se reluzindo ao contrário no asfalto úmido

do nickcave anunciando que deus está em casa

e é pra lá que eu voou

de repentista

tudo me diz pra parar e sigo indo
fazendo histórias como o marceneiro que larga a madeira e faz portas de vidro
aquela massa mole de translucidez quente que parece frio
aquela memória chata que parece calor
e já esfriou mais que estrela morta no papel branco
fundo musical não contrasta o que o cadáver estelar merece
que substância que droga que alimento
muitos avós ao meu redor
um espreita o gozo das sereias de seu bote no Pará
um pinta as palavras do pescador de pérolas sem dizer só sabendo sabendo muito que a pérola na barriga da concha na almofada da coisa ininteligível em Fukushima não se nomeia, se pinta
too many notes, cantam as vós

desembaçada

ando meio deslogada calculadamente para repetir a senha
a senha precisa ser gritada até ser dita
como uma história tão interna que de dentro avisa
não há sinopse possível sem que se conte os passos da heroína my wife
sinopse viaja voltas ao mundo de novo de novo
o tempo volta para dentro de si novamente assim se sabe criança
quem sempre se achou pinha madura doce

desembaraçada

de novo no laboratório do cientista esquizofrênica
ele ou eu só 2 pontos de vista
seus métodos de suas estatísticas erradas não
gosta de matemática
de sua ética não sabemos
nem ele nem eu
sabemos o que importa que isto é um lab
lab labi láb lá
lábios gagos do oratório
era isso que vc desejava um choque sutil na massa cinza choquezinho besta
o experimento
quer verificar (o cientista não queremos nada) a fórmula do engano
aquela que decoro e nunca sei quando usar
o formulado engano
de dilatar a pupila para não enxergar a própria mão.

Frase-Ferramenta

uma frase, ferramenta que estou forjando neste exato agora e que pretendo usar, é “É difícil explicar”.
Os “É difícil explicar” só devem ser usados como coisa de função clara, precisa. Saber explicar é função minha. Saber é o que eu faço. Que seja com palavras driblantes, palavras marotas, trucosas, com mímica surda lúdica de trompete de dedos e caretas, com o silêncio da espada molhada em riste. Confúcio falou no tudo que não disse.
Então, pego o meu “É difícil explicar” e corto uma fatia da sua mente. Pra que ela role até meus pés rechonchudos e seja pisoteada como uvas. Quanto mais difícil, mais eu sei. Essa é a regra de 3; o difícil está para o saber assim como a matemática está para a música.

zé celso pulando ondas gigantes no Mar de Naima

Tema Lúdico

Não o tema, um.
Das Coisas Gostosas

como este silêncio quieto. Hora de partir, vontades guardadas, direitinho guardadas.
Na gaveta verde-olhos ainda deslizante, mesmo nos trilhos pouco enferrujados.
Um charme. Um tema
que é tudo, o roteiro inteiro, não a nossa canção.

Brincadeiras acústicas. Minha voz bate nas suas paredes de ombro e pescoço. Vibra a sua orelha. Me escuto.
Sem fone de ouvido, como saber o som do coração de onde vem, meu ou seu.
Nenhum dos dois, muito menos som desorganizado: é indefinição, harmonia nos é um fenômeno sônico indescritível. Só reverbera.

Depois dessa introdução circular em que nossa fala só rodou em círculos, circular pelo bairro desenhando a boca do caldeirão, pra então entrar nesse lugar seguro pra nos brotar.

Parar de bater a cabeça na pedra que havia do caminho. Você aí, eu aqui. Uma parede no meio. Não deixa de ser eu aí, você aqui, respeitando os andamentos das pernas cansadas.

Minha leitura com trilha sonora de Paco de Lucia, Entre Dos Aguas.